21 novembro 2006

Novembro






Novembro dera à luz ao inverno
o pariu em chuvas e eletricidade
converteu em cinza todas as tardes.
Vidrou meus olhos na cor despetalada das árvores
A cidade tornou-se encanto e desmoronamento
Tenho frio e isso passa.
Passa o dia sonolento
a tarde em esquecimento,
só não passas por aqui.
Fustigo a textura
da memória o teu semblante
te quero inteira e quero nua
fugidia das ruas, camponesa das chuvas.
Me atormentas por onde tracejo,
meu passo em desajeito.
Falo só, me chamam louco
Peço notícias tuas aos moradores de rua
Um diz-me ter te avistado em algum lugar além dos mares
Outros te viram com bolas-de-gude,
planetas nas mãos.
De certo restavas distante
em algum éden lunar ou no front.
Enquanto sigo errante,
só não quedo em desespero
Da linguagem que conjugo
decifrável por nós dois, fico a indagar,
Eu aqui, você onde?...onde meu Deus!
Te quisera próxima
dizer-te ao pé do ouvido
do mundo que há pouco me dera abrigo,
conter teu arrepio e te levar daqui.
A verdade é que da época
em que nasci me pariu em melancolia
me despiu na aragem fria, me diluiu por ai.
Nesse inverno maciço e solitário,
só me resta juntar:
fragmentos de ti perdidos pela
cidade, reuni-los num quadro.
E como arte-final: esse alinhamento
de pele, esse querer-se pra sempre e esse cuidado
de não ser nada além do que um verso dado,
que só quer em troca o repouso da tua alma
no meu ser abandonado.

Marcelo

16 novembro 2006






Os olhos se despedem do horizonte
Que, por hora, alucinavam um rosto.
Neste instante, este punhado de agonia
É a verdade simples e suficiente, ela encerra o momento presente
É o que restou dos bolsos e do casaco perdidos na última esquina.

As últimas horas
Percorre rumo ao cais indefinido.
Não há medo, nem fúria.
A face tranqüila, a certeza de ter decifrado
Até o último signo a linguagem daquele corpo em pergaminho.

Ele se posiciona ante aos lábios que servem de beiral ao universo
E precipita seu corpo abismo abaixo naquela alma antiga e cataclísmica
Quer ir onde se disse não ser possível, sorver as profundezas da carne
por trás da cortina da noite e ao final blasfemar o que lhe foi negado.
Seu quinhão, sua benção e maldição.

Ele está próximo e vem reclamar os espólios
Seu legado recebido dos antepassados
Essa é a ante-véspera da prometida e eterna paixão.


Marcelo

23 outubro 2006

Por esta época crisálida

Essa última colheita de poemas, pródiga de paixão foi realizada sob imenso sentimento enamoramento do mundo e de plutão.... Quem estaria regido por ele? Ah! escorpianas, é claro.
Tenho estado taciturno quanto a isso. Penso na dádiva e dor que o signo da paixão, esse "padecer no paraíso" exerce sobre a humanidade, as forças incontroláveis e intangíveis que movimenta, a um só tempo mansas e avassaladoras, sabe-se lá com que controle. Controle? Santa ingenuidade Batman, hahahahahah e eu rindo de mim mesmo.



Por esta época crisálida.
Ela transmuta-se nas folhas que abandonam
as árvores polinizando o vento.
Ela trafega há poucos centímetros acima chão
E meus olhos colhem os passos em pequenos frascos
Onde engarrafo seu céu em firmamento.
E seu corpo é a chama de amor que queima em silêncio
Como um círio que aguarda a última cinza, até ser simples
Como um fino grão de poesia.
Até que se perverta na nova aurora desnuda da tarde
E sua pele a invejar o crepúsculo, de uma cor tão jambo
Que pacifica meu coração com acalanto.
Ela é assim na quaresma, profana em carne a se decompor
Na antevéspera da ressurreição esperada pelo outros.
Pra mim, ela é um espanto, um cataclísma, anunciando a primavera.
Na atitude de quem lança os lábios a uma nascida entrega.
Onde sou eu a te aguardar no meu abraço e ninho.
Pra delícia do seu contentamento.

O Legado dos Teus Olhos

O Legado dos Teus Olhos


O que se disse sobre os teus olhos, se disse.
Há nisso toda linguagem primordial sobre a beleza
a essência, limites e contornos que há nas palavras.
A partir de então tudo é redundância, o mais do mesmo,
ao acalanto das almas dispersas em agonia.
Deixa-me com as palavras à atualizar-me a memória e os suores
do corpo a revisitar lembranças.
Deixa comigo as palavras a brilharem em silêncio sobre o papel
A colorirem de êxtase muitos olhos
a desbotarem ante o passo infatigável do tempo.
Deixa-me a sós com todo desatino que há na solidão das estrelas.
Não desespere, tenho um plano.
De certo, a sabedoria por ofício injusta, da natureza
cuida do equilíbrio necessário á continuidade
daquilo que chamamos nós dois.

Domingo

Domingo

Ontem quando da despedida da tarde
pronunciei teu nome, pus no bolso alguns raios de crepúsculos
debruçados em meus ombros fatigados de viagem
e pus-me a colher os rastros de memória
perdidos na cidade.
Era vermelha, poucos azuis despontavam ao final da tarde.
Quase nenhum dera à luz a noite, muito havia a se esperar
Mesmo num instante ínfimo de umedecer de lábios e o toque das pálpebras
Uma vida inteira, muitas vidas, aliás, nasceram e jaziam.
Prescindia-se de muito tempo aos grandes acontecimentos.
Resolvi catar ventos que prenunciavam a chuva
Ter com a poeira em redemoinho revivida da terra
um colóquio de serenidade.
Indagar-lhe de quantos solos sua vida fora feita,
só para saber de quantas muitas vidas é feita uma terra ressurgida.
Não alcancei as marquises que protegem os transeuntes
na verdade me entreguei à chuva, permiti que ela de mim,
bani-se todas as algas marinhas e restos de embarcações
trazidas dos inúmeros naufrágios que sofri.
No caminho de volta contemplei em desatino poças, córregos e inundações.
A vida em constante encontro e desintegração. Tudo fora limpo, nascido para tornar a morrer
e o mundo é um constante sendo. E o que nele acontece a mim acomete num mesmo átimo de segundo, então desaparecera a linha fronteiriça que nos separa do resto do mundo.
E cá estou com as palavras, tendo sobrevivido à criação do domingo...
Mimetizo alguém neste instante brincando com estrelas que nos olha sorrindo.