18 março 2008

O Teu Riso

O Teu Riso

Tira-me o pão se quiseres,
tira-me o ar, mas não me tires o teu riso.
A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso sobe ao céu a procurar-me
e a abre-me as portas da vida
À beira do mar, no outono,
te riso deve erguer
sua cascata de espuma...
Ria da noite,
do dia, da lua,
ria das ruas
tortas da ilha,
ria deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca teu riso,
porque então eu morreria.
Fernando Pessoa

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